terça-feira, 8 de setembro de 2009

Up

Com certeza que quem tem seguido a cinematografia da Pixar já percebeu que estes filmes são cada vez menos para as crianças. A Pixar alia à sua excelência técnica argumentos em que a complexidade das suas personagens principais é basicamente incompreensível para o habitual público de filmes de animação. E ainda bem que assim é porque obriga as crianças a sair da passividade informática e televisiva em que estão enredadas e porque proporciona aos adultos a possibilidade de ir além do visualmente estimulante ou entretido.
Neste Up o risco volta a ser elevado: é preciso coragem para colocar como protagonista um velho viúvo, amargurado e saudoso, eternamente apaixonado pela sua falecida, em busca do último sonho dela. O desafio é vencido ternurenta e magnificamente nos primeiros dez minutos do filme, onde contactamos com a história amorosa deste casal. E quando, por entre perseguições e aventuras pouco entusiasmantes, em breves segundos, este viúvo percebe que tem que deixar para trás tudo o que lhe torna presente a sua esposa. São segundos em que os olhos de um boneco se enchem de lágrimas contidas e dignas, como nunca se viu em animação e raramente se vê no cinema que por aí pulula como fast food. Trazer para um filme de animação a força do amor de duas almas gémeas separadas pela vida e a dureza da vida envelhecida que tem que vencer os obstáculos do corpo, do progresso e da inabitabilidade num mundo cada vez mais estranho são desafios que corajosamente foram atingidos com distinção.
Não é o melhor da Pixar (Walle, Ratatui, Carros, Os Incriveis), mas é, a anos luz, do melhor que o cinema deste ano nos ofereceu.
Só mais um conselho, não gastem dinheiro em ver o filme em 3D (foi o primeiro que vi, por isso não vou, ainda, dizer que é uma fraude), não ganham nada, a não ser uns inúteis e ridículos óculos.
Nota 8

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