segunda-feira, 1 de junho de 2009

Dúvida

O filme "Dúvida" foi realizado pelo mesmo autor da peça teatral que está na génese da referida película: John Patrick Shanley. Antes de mais é preciso dizer que não estamos diante de um grande filme, nem me parece que fosse essa a intenção do seu autor. Estamos sim diante de uma portentosa interpretação de dois actores consagradíssimos (e por quem sou um apaixonado): Meryl Streep e Philip Seymor Hoffman. E por uma não menor performance de uma surpreendente Amy Adams e de uma tão esquecida Viola Davis. Só por estes quatro já vale a pena o preço do aluguer ou da compra do dvd.
A peça desenrola-se em 1964, num colégio católico no bairro de Brox, e aborda a questão dos abusos sexuais cometidos pelo clero, o confronto de uma posição conservadora frente a uma nova perspectiva cristã que daria origem ao Vaticano II e, principalmente, a questão da dúvida que toda a fé e toda a decisão implica.
A reitora, interpretada por Streep, é uma freira dura, resoluta e desconfiada de tudo o que é novidade. Uma imagem que todos guardamos na memória. Mas será ela que manifestará, por detrás de toda aquela austeridade, um humor fino, uma verdadeira compaixão humana, uma corajosa fidelidade a Cristo que a leva a desafiar o argumento hierárquico da autoridade e uma crente fragilidade que a levam a derramar lágrimas acompanhadas da palavra repetidamente pronunciada: "dúvidas, tantas dúvidas". Mais que dúvidas da culpabilidade do sacerdote, são as dúvidas de uma crente diante do mistério mais difícil da fé professada pelos católicos: a fé na Igreja, na sua dupla realidade carismático-institucional, na sua contraditória história passada e presente, no tremendo abraço dorido e apaixonado que ela exige em volta de si própria.
Assim, estamos diante de um bom filme, com um naipe da actores insuperáveis e que, sem maniqueísmos, apresenta o constituinte fundamental de qualquer fé: a dúvida.

Nota: 7

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